terça-feira, 14 de dezembro de 2010

em três movimentos.

I

Nossos gestos eram simples e transcendentais.
Não dissemos nada
nada de mais...
Mas a tarde ficou transfigurada
- como se Deus houvesse mudado
imperceptivelmente
um invisível cenário.

II

Eu te amo tanto que
sou capaz de nos atirarmos os dois na cratera do Fuji-Yama!
Mas, aqui,
o amor é um barato romance pornô esquecido em cima da cama
depois que cada um partiu - sem saionara nem nada -
por uma porta diferente.

III

E em que mundo? Em que outro mundo vim parar,
que nada reconheço?
Agora, a tua voz nas minhas veias corre...
o teu olhar imensamente verde ilumina o meu quarto.

In: Esconderijos do tempo

-

"Porque a cidade está cega, também.
O que não é visto por ninguém
não sabe a cor e o aspecto que tem.
(...)
Porque tudo que jamais é visto
- Não existe ... "
M.Q. Esconderijos do tempo

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

...*

"Creio que a verdadeira dignidade, a que faz que um homem se estime no mais alto grau em que legitimamente pode estimar-se consiste: parte em que o homem saiba que a única coisa que verdadeiramente lhe pertence é a livre disposição de sua vontade e que só deve ser elogiado ou censurado em razão de utilizar-se bem ou mal dela; e parte no intuito de bem usá-la, isto é, de não carecer jamais de vontade para praticar e executar as coisas que julgue as melhores; ou seja, seguir perfeitamente a virtude."


Descartes*

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Like autumn leaves..*


Sempre precisei muito das pessoas. E elas, nunca me falharam. Estavam sempre ali, sorrindo ou chorando, enquanto eu estava quieta, dependente e muda. Engraçado como me faltam palavras para descrever. Comparo-me comigo mesmo tentando fazer sentido, mas realmente não faz. Será que sou eu?
Os sorrisos sempre vieram em excesso. Os abraços me cercavam o tempo todo. NUNCA necessitei de muito além de um passo para que um gesto de carinho surgisse em meio a qualquer sentimento. Hoje,não é assim. Parece exagero, mas me sinto muito sozinha. Lutando contra a minha essência, contra os meus princípios para que alguém se manifeste. Difícil. São tantos os obstáculos, tantas as correrias. Triste não ter ninguém que te ajude a segurar as pontas. Triste perceber que não entendo meus sentidos e meus sentimentos porque eu SEMPRE precisei de ajuda para entendê-los. E mesmo depois de anos, ainda preciso. Sou incapaz, sentimentalmente.Quero emancipação sentimental. Quero ser independente, e fugir da angústia de não ter com quem contar, com quem desabafar.
ME tornei introspectiva. Meus sentimentos não são expressos com a mesma facilidade. E mesmo que queria, eles não se distribuem, não se compartilham.A felicidade não dura. Os sorrisos somem. Vivo automaticamente sem que algo me comova de verdade. GELO. É isso o tempo todo. E não há quem me traga de volta,mesmo com perdões e muitos "eu preciso de você". VAZIO, onde todos os sentimentos são tão inutéis que não conseguem ter força e se definir como um somente.Ridicularizado.
Minhas escolhas parecem todas incertas. Como folhas de outono...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Não sabemos namorar...

Agora dei para mascar chiclete com sabor melancia. Deveria esconder esse detalhe.Mórbido para quem atravessou os 36 anos.Mas vejo o quanto escondo o romantismo debaixo da mordida. Sou açucarado.Meu beijo é diabético. Logo eu que passo uma imagem seca de bolacha de sal.Vá lá, não vou sorrir para mim de noite ou pedir a benção para os apaixonados,mas não acredito nesta história de acomodação no romance.Que de uma hora para outra cansamos.Não é cansaço, não é que paramos de seduzir porque conquistamos e que não precisamos mais arrebatar com surpresas.Não é que estamos seguros e não arriscamos mais.Não é o conforto ou o domínio territorial.Senão começaremos a acreditar que existe cupido.E cupido é o mais cafona dos anjos.Quem começa uma relação com cupido termina na fossa repetindo os erros ortográficos das canções sertanejas.Confio que há gente que não saiba namorar. Não sabe namorar, e pronto.Supõe que é instintivo, natural, que é beijar, abraçar e os oceanos transportam a espuma.Que basta amar e as relações funcionam. Mas as relações queimam pelo pouco uso.A eletricidade enferruja.Há gente que jura que namorar é cumprir um expediente depois do expediente: jantar, conversar e transar.Há gente que não quer namorar,e sim uma amizade para dividir o que se é. Sem tensão. Sem cobrança. Sem nervosismo.Que tudo está definido e seguro para o final do ano,que não pode ser perdido no próximo minuto.Eu acabei de perder o próximo minuto. Namoro é ambição.É um final de semana a cada dia. É uma delicadeza insuportável,antecipar os movimentos e agradar quando não se espera.Gentileza em cima de gentileza, infindável.Um cuidado para não magoar com aviso e pergunta,com aquela educação concedida a gestantes e idosos.Namorar requer uma atenção absoluta.E não reclame: amar pode ser para toda a vida quando oferecemos toda a nossa vida.Tem que se preparar, ceder, abrir espaço, oferecer, renunciar.A inquietação nasce da paciência. A criatividade nasce de uma porta fechada.É um extremismo terrorista. Explodiremos civis.Durante algum desentendimento, mobiliza-se a genealogia da imaginação para escandalizar de novo. Carro de som, helicóptero, arranjos suicidas pela janela. Não é permitido ficar quieto, parado, para conversar a respeito. A conversa demora.No namoro, não existe como ser egoísta. Egoísmo se deixa no JK.É pensar pelo outro, com o outro, como o outro.É ter uma lista de compra de mercado na ponta da língua, junto com o chiclete de melancia: qual a pasta de dente que ela usa, o xampu, o condicionador, o azeite, o leite que toma, o suco... Desconhecer a geladeira da namorada é passagem direta para o congelador. É entrar numa livraria e pensar no livro que ela vai gostar, é entrar numa loja e pensar um vaso que combinaria com sua sala, é entrar no cemitério e sonhar com um mausoléu para a família, sim, planejar a morte junto - nada mais romântico.É entrar em si mesmo e lustrar as memórias mais distantespara parecer orfão antes de sua chegada. Agora dei para mascar a minha boca.


Fabricio Carpinejar*

Você não conhece a si mesmo, assim como eu.


Pra que nos conhecer por inteiro? Quanto mais nos conhecemos,mais nos limitamos.Quando tentamos nos focar no que somos e nos diferenciar do que fomos e das pessoas que não admiramos,perdemos nossa humanidade de nos DESCOBRIR.São idéias,claro! Mas o que seriamos de nós sem as idéias? Somos aquilo que pensamos,que idealizamos.Então,preze a idéia que somos inconstantes, mutáveis e que não nos conhecemos por inteiro.Não se defina,não se limite. VIVA! Não há vida sem erros,sem experiências.E quem passou ileso por essas experiências,perdeu uma preciosidade: A JUVENTUDE.